A morte tende a ser um tema complicado de tratar em qualquer situação e em qualquer sector. Tudo nos parece macabro, negro e fúnebre.
Faz algum sentido pensar assim?
Poderemos morrer com o mesmo estilo com que vivemos?
Com o enterro a diminuir o seu peso na Europa e EUA – a taxa de cremação no Reino Unido está em 70%, seguido de perto pela Suiça, Dinamarca e Suécia – as urnas funerárias, muitas vezes guardadas em casa, são talvez o melhor objecto para os artistas contemporâneos poderem fazer as suas primeiras experiências de "arte de morte".
No final dos anos 90 na Califórnia, Maureen Lomasney lia um artigo num jornal sobre o aumento das cremações na região. “Comecei a pensar no que se estava a produzir para as pessoas porem as cinzas dos seus familiares, e cheguei à conclusão que não havia muita oferta".
Ela decidiu investigar e não descobriu praticamente nada. Então, no ano 2000, decide criar um concurso de urnas e arte funerária para artistas de escolas de arte e ateliers com prémios finais, júri especializado e possibilidade de venda das peças. A resposta muito positiva – tanto de artistas como de compradores – levou-a a abrir a empresa Funeria, um negócio de arte funerária que tem agora uma galeria em Sonoma County e uma bienal em São Francisco.
“Os pedidos estão a quadruplicar a cada ano nos últimos 3 anos... Eu diria que estamos no bom caminho”. E mais: “As pessoas pensam em todas as fases da sua vida e procuram oportunidades para enriquecê-las.”
Mas aqui na Europa também vamos avançando. Na Bienal de Design de Saint-Etienne, a peça sensação foi um trabalho "assustador" do artista francês Pierre Charpin: uma pequena caixa para cinzas humanas em vidro branco se for para uma criança ou em vidro negro se for para um adulto.
“Uma urna não tem de parecer outra caixa qualquer”, diz Charpin,“Não tem de ser uma caixa bonita, elegante e bem desenhada.”
A peça de Charpin faz parte de um grupo de 10 obras comissionadas por Matteo Gonet, um fabricante de vidro, que descobriu e desenvolveu esta arte também por uma análise empírica da inexistência de oferta. A lista de criadores inclui artistas, artesões, professores de arte e vidreiros.
Depois de Saint-Etienne, estes protótipos já viajaram para mais exposições, em Eindhoven (Designhuis) e Lausanne (Musée de Design et d’Arts Appliqués Contemporains - Mudac). Próximo passo: produzir as peças para vendê-las.
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