17 fevereiro 2009

Matadero Madrid (Parte 2)

Análise ao modelo geral de ajudas à criação 2008 do Matadero Madrid:

Uma das apostas mais importantes do Matadero é o programa de apoio à criação artística e ao pensamento contemporâneo, potenciando a sua difusão e aproximação aos cidadãos, que centraliza todo o orçamento cultural do Ayuntamiento. No total são 355.000€ distribuídos em três programas:

A) Programa de espaços e agentes culturais independentes - Destinado a espaços permanentes bem como a agentes culturais (dotação máxima por projecto de 30.000€)

B) Programa de criadores - Destinado à produção de obras de criadores individuais e colectivos, projectos com carácter inovador e actividades com fundamentos e conteúdos de livre escolha (máx. 15.000€)

C) Programa Matadero Madrid - Destinado a projectos e/ou actividades que deverão desenvolver-se nos espaços e instituições activas no Matadero Madrid (máx. 18.000€)

O Matadero gere também as Ajudas à Mobilidade Internacional de Criadores implicados na criação artística madrilenha para a ampliação de estudos, a investigação, e a realização, produção e desenvolvimento de projectos de criação no exterior. O valor total é de 150.000€ com um limite máximo por beneficiário de 12.000€.

O montante destas subvenções, que pode parecer elevado a uma maioria de cidadãos, é no final bastante ridículo se o compararmos com muitas outras que recebem diversas empresas, indústrias ou clubes desportivos. Para além disso é um montante que, ao ser dividido por tantos criadores, acaba por ser utilizado para cobrir os custos de produção deixando de lado uma parte tão importante como a comunicação. De que nos vale uma obra de arte magnífica se ninguém sabe onde está exposta?


Análise de um dos projectos subvencionados:

LA ENANA MARRON é uma sala independente de exibição de programas que incluem obras singulares de artistas plásticos, cineastas e video-artistas, aberta desde 1999. Este auditório, com capacidade para 70 pessoas, consagrado ao cinema de autor, inédito e em vários formatos (super 8, 16mm e 32mm), encontra-se no bairro de Malasaña. A programação centra-se em curtas e largas-metragens experimentais, independentes e minoritárias, algumas vistas em pequenos festivais de muitos lugares do mundo normalmente inacessíveis em Espanha.
Nesse sentido, La Enana Marrón é a única sala de Madrid que oferece uma programação estável de obras com estas características.
Programa-se filmes de um marcado valor pessoal, às vezes artesanais, fora dos circuitos comerciais e com poucas possibilidades de se aproximarem de um público que existe. Alem do mais, tentam romper com o modelo clássico de sala de projecção, através de um intercâmbio directo do espectador com alguém vinculado à obra apresentada (programador, realizador, crítico ou actor): “As conversas-colóquios depois das projecções e performances que envolvem o cinema, são as nossas propostas para tentar romper com o molde clássico de sala de projecções, onde uma pessoa vem, vê e vá.”

No mês de Janeiro esteve em cartaz o Festival de Cinema Independente de Barcelona “L'alternativa”, constituído como uma plataforma de exibição de um cinema que normalmente tem difícil acesso às salas pelo seu carácter criativo. No total foram projectadas 24 filmes de diferentes criadores que supõem uma mostra do que está na moda actualmente no mundo do audiovisual contemporâneo, todos inéditos em Espanha.
No total têm 6 patrocinadores:
:: Comunidade de Madrid – Matadero
:: Ministério de Educação, Cultura e Desporto – Secretaria de Estado de Cultura
:: Festival de Cinema Independiente de Barcelona “L'Alternativa” (projecto apoiado pelo Estado)
:: Independent Film Network (também apoiado pelo Estado)
:: ConceptoWeb (para a gestão do site)
:: Kinova – Pós-produção e Títulos (parte técnica e logística)

A existência deste projecto é totalmente dependente da política pública de apoio às artes. Ainda que todas as actividades sejam a pagar, e exista a possibilidade de ser sócio do cinema, as receitas não cobririam os gastos que supôem o seu funcionamento.
Deparamo-nos com a existência de subvenções aos 2 niveis comentados anteriormente, nacional através do Ministério e local, através da Comunidade.

No meu ponto de vista, a subvenção aqui é imprescíndivel porque se trata de permitir o acesso a bens culturais que não estariam disponíveis de outra forma. É a única maneira de ampliar o espectro cultural nesta área, com a vantagem de poder aproveitar toda uma rede internacional que já existe para o intercâmbio deste tipo de conteúdos.

Tendo em conta que o funcionamento do espaço seguirá com a sua coerente definição de linhas de programação e com o seu público definido, deveriam-se procurar caminhos de sustentabilidade:
:: mais comunicação em media que esteja em linha com o estilo de consumidor
:: utilização da sala todos os días (e não só 3 noites por semana) – eventualmente com outro estilo de programação
:: procurar cooperação com outros festivais internacionais
:: criação de associações para a venda directa de bens complementares (ex. livros, DVD's)
:: apoio a obras de realizadores de Madrid – criar o seu próprio Centro de Artes

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