02 abril 2009

Pinto Ribeiro e a Política Cultural

Todos temos direito a resposta...
O meu post anterior tinha questões e este tem algumas respostas.
Artigo da Lusa de dia 27 de Março:


O Governo vai investir 30 milhões de euros num "cluster" de artes e indústrias criativas com vista à criação de mais emprego, disse o ministro da Cultura em entrevista hoje publicada no Jornal de Negócios.

José António Pinto Ribeiro esclareceu que, com este "cluster", pretende também maior eficácia cultural, que não se traduza apenas no número de pessoas (visitantes) que "entrem e saem" mas em que estas "sejam contaminadas".

"Rigor e imaginação" é o que Pinto Ribeiro, há cerca de ano e meio no Palácio da Ajuda, pede a quem gere as instituições culturais.

Na mesma entrevista, o titular da pasta da Cultura reafirmou a sua aposta nas "parcerias" para "fazer mais" e também criar emprego em tempos de crise.

Concretamente, propõe o estabelecimento de parcerias "com as empresas para qualificar, gerar emprego, haver mais obra".

Referindo-se ao orçamento do seu Ministério, Pinto Ribeiro fez a destrinça entre o que está orçamentado - 0,45% - e o que é aplicado, e deu como exemplo o programa InovArt, que a partir de verbas do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social irá colocar 200 jovens artistas até 35 anos a estagiar no estrangeiro.

Esta aplicação, segundo o ministro, permite ao seu ministério usufruir de mais cinco milhões de euros que não estão no seu orçamento mas que executa.

Em termos orçamentais, o responsável apontou o ano de 2005 como o pior em termos de execução e assinalou ter-se notado uma melhoria sucessiva a partir de 2006 até 2008. "2008 foi o primeiro ano em que se atingiu 102% de execução do orçamento", indicou.

Reconhecendo que as actuais condições não são as melhores, frisou que, para si, "uma coisa é absolutamente clara": se os seus antecessores "tivessem tido um êxito extraordinário" o problema não existia.

Referindo-se às recentes críticas do ex-ministro Manuel Maria Carrilho, Pinto Ribeiro observou que elas surgem "em função de um calendário e de um projecto político pessoal".
Pinto Ribeiro, que foi apoiante da candidatura de Manuel Maria Carrilho à Câmara de Lisboa, lamentou que o seu predecessor no cargo não tenha "conversado" consigo e acusou-o de não ter feito "o trabalho de casa" nem ter visto "os números reais".

Considerou ainda que Carrilho "podia ter feito a crítica nos anos em que ela era justificada" e "antes de ser nomeado embaixador" de Portugal na UNESCO em Paris.
Eu espero ansiosamente para saber mais coisas deste cluster e sobretudo espero, tal como referiu na entrevista, "que o próximo mandato seja o da Cultura, tal como este foi o da Ciência".

31 março 2009

Carrilho e a Política Cultural

Na semana passada o mundo político português agitou-se ligeiramente por causa de opiniões divergentes sobre a política cultural nacional. A mim parece-me positivo, não pelo que se disse nem pela constatação do cenário actual, mas sim pelo simples facto de colocarmos o assunto "cultura" na agenda política.

Transcrevo o artigo do Expresso de 21 de Março:


O antigo ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, quebrou o silêncio de quase uma década sobre a área que tutelou entre 1995 e 2000 e tece duras críticas à política cultural do actual Executivo.

Num documento enviado a António Vitorino, que preside à Fundação Res Publica, a que o Expresso teve acesso, o actual embaixador português na UNESCO lamenta que a política cultural se tenha tornado "cada vez mais invisível, ilegível e incompreensível, ameaçando fazer dos anos 2005/2009 uma legislatura perdida para a cultura" e sugere que "a Fundação Res Publica (ou o fórum Novas Fronteiras), retomando o espírito dos Estados Gerais - isto é, um espírito de real abertura e de efectivo debate -, abra uma ampla discussão sobre a situação e o futuro das políticas culturais em Portugal, com a intenção de as refundar".

"A cultura pode dar uma importante contribuição na resposta à crise que o país atravessa", sustenta Manuel Maria Carrilho, sublinhando que a cultura é "parte do património do PS" que importa "manter, renovar, valorizar". A crise indesmentível que atravessamos "de modo algum justifica" - no seu diagnóstico sem paliativos - "seja o estado de abandono a que a cultura tem sido votada, seja o desinvestimento de que tem sido objecto e que pode provocar - e enfatizo este ponto, uma vez que se trata de uma ameaça real - danos irreversíveis".

Citando o antigo ministro das Finanças de Sócrates, Luís Campos e Cunha, e vários estudos da União Europeia, Carrilho defende a valorização do contributo da cultura e da criação "no PIB, no emprego, na coesão, na competitividade. Não reconhecer isto é, hoje, de uma cegueira tragicamente irresponsável". E propõe: que o PS garanta a efectiva progressão do orçamento para a Cultura até ao 1% do Orçamento do Estado que já prometia António Guterres em 1995; e que "reformule a administração dos sectores fundamentais". "É urgente mudar", conclui, aconselhando o PS a "assumir com verdade o balanço do período que agora termina e prometer mais e melhor" para o futuro.

O regresso de Carrilho à cultura, ainda que apenas através de um texto para discussão interna no PS, foi saudado por vários protagonistas culturais contactados pelo Expresso.

"Recolocar a cultura no mapa político é romper o silêncio. E vozes rebeldes são muito bem-vindas", diz Pedro Abrunhosa, demolidor na qualificação do estado actual de coisas, não apenas na cultura mas na política nacional em geral: "Isto é um quarto vazio, sem portas, nem janelas, nem brechas", afirma o músico portuense. Comparável aos tempos de Cavaco? "Pior, porque nessa altura havia oposição. Agora não há".

Ricardo Pais, antigo director do Teatro Nacional S. João, aplaude o facto de alguém com o peso político de Carrilho "pôr o dedo na ferida, chamar a atenção para as responsabilidades tremendas deste Governo no estado da cultura". Que é, afirma, "lastimoso", de "um vazio absolutamente impensável". Recordando António Guterres como "um homem superiormente culto, ainda que pusilânime", vê em Sócrates "o negativo" de Guterres.

O cineasta João Mário Grilo é igualmente crítico da política cultural deste Governo: "O que tem acontecido é uma não-política - o que é um acto performativo politicamente, produz resultados. E os resultados têm sido dramáticos". Grilo fala de "marasmo absoluto, falta de dinamismo, só compreensível se se quiser liquidar a cultura". Neste contexto, acrescenta, a reflexão proposta por Carrilho é "absolutamente imprescindível".

Também a antiga directora-geral dos Museus Raquel Henriques da Silva saúda a iniciativa do ex-ministro. "Um dos maiores problemas da cultura é a falta de vozes políticas". O actual ministro, José António Pinto Ribeiro, merece-lhe todas as reservas: "Revelou-se fraquíssimo". A professora regista ainda a "desorçamentação brutal" da cultura para concluir que estamos a ir em sentido contrário ao do resto da Europa. "A cultura é geradora de dinâmicas sociais positivas", conclui, numa posição de resto comum a todos os agentes culturais ouvidos pelo Expresso.

Paulo Ribeiro, director artístico da companhia de bailado com o seu nome (que actua no Teatro Viriato, em Viseu), fala da cultura como forma de combate à crise de modo entusiástico: "A forma como a cultura pode dinamizar um país tem um retorno absoluto, por completo, nunca se perde dinheiro". E acrescenta: "O momento é perfeito para que isto seja pensado e debatido e sejam tomados compromissos".


Mas não nos fiquemos por aqui. Já em Fevereiro falava sobre a política cultural europeia (agora um artigo da Lusa de 4 de Fevereiro):

Manuel Maria Carrilho considerou, esta manhã, que "a Europa é uma desilusão do ponto de vista cultural", referindo-se ao orçamento de "400 milhões de euros, divididos por 27 países, por sete anos" atribuído pela União Europeia para a cultura.

O actual embaixador de Portugal na UNESCO falava durante o debate "Estado e Sociedade Civil na Cultura", inserido no Fórum Cultura e Criatividade 09, a decorrer na Exponor, Matosinhos, no qual explicou que "é preciso recolocar na agenda política o um por cento (do orçamento) para a cultura".

Carrilho referiu que "o momento que hoje vivemos é adequado para repensar as políticas culturais" e que a sua actualização passa pela "articulação com as políticas de desenvolvimento do País".

Uma nova política cultural deverá, para Carrilho, assentar em dois eixos: as responsabilidades estruturais - "um papel que deve ser assumido pelo estado" - e as responsabilidades estratégicas - "que têm a ver com o apoio às artes em todos os domínios da criação".

"Só com estes dois níveis estruturados é que a indústria criativa pode funcionar", destacou.

Quanto às responsabilidades estruturais, Carrilho lembrou que esta é "a responsabilidade que o Estado tem junto de várias instituições e que se esquece", como são os casos "da biblioteca nacional, Torre do Tombo, Teatros Nacionais, Cinemateca".

"São responsabilidades do Estado, que o Estado tem de assumir", frisou, acrescentando que "não há redes de amigos, parcerias ou mecenatos que possam suprir essa incontornável responsabilidade do Estado".

O antigo ministro da Cultura referiu também a necessidade de uma maior qualificação quer de instituições quer de pessoas, a qual, se colocada "como desígnio estratégico no centro da ambição política, é um passo que nos podia ajudar a sair da crise".

E vendo bem, que formação avançada há em Portugal para os agentes culturais? Não falo de artistas porque aí seria uma área quase diferente, penso sobretudo nas pessoas que têm de fazer andar este sector para a frente nos domínios de gestão...
Um´dos problemas endógenos das empresas e instituições culturais é a incapacidade de visão estratégica e administrativa.
E para isso é necessário investir em formação e depois apostar nessas pessoas!

16 março 2009

Festival da Canção

A música continua a ser um território fortíssimo de intervenção social e política.
Isto vem a propósito do eterno Festival da Eurovisão que apesar de ter perdido importância na Europa Ocidental continua a ser um evento muito importante para os países de Leste sobretudo porque pode representar os 5 minutos de fama e glória para muita gente.

As polémicas deste ano são as escolhas da Geórgia e de Israel: a canção georgiana fala do ex-primeiro-ministro russo de uma forma encapotada, a proposta de Israel é uma actuação conjunta de uma cantora israelita e outra árabe.

"We Don't Wanna Put In" ("Não queremos o Putin" em tradução livre) é o título da canção eleita pelos georgianos para o festival da Eurovisão, ainda no rescaldo do conflito de Agosto entre a Rússia e a Geórgia, por causa da província separatista georgiana da Ossétia do Sul.
A música, cantada em inglês pelo grupo Stephane and 3G, foi escolhida por um júri e pelo público. Curioso será lembrar que no ano passado a música georgiana tinha o título "Peace Will Come"...

O porta-voz de Vladimir Putin lamentou "o facto de se utilizar um concurso tão popular na Europa para a transmitir as suas ambições pseudopolíticas - é simples hooliganismo".

A produtora do primeiro canal georgiano responde, "não tem nada a ver com política, é uma canção divertida". Já o produtor da canção, Kakha Tsiskaridze, assume o duplo significado e defende que é uma maneira de a Geórgia "enviar uma mensagem à Europa e principalmente a Moscovo".



Já em Israel o problema são as boas intenções. "Uma rapariga árabe que parece judia e uma rapariga judia que parece árabe" é a ideia que Israel quer transmitir na Eurovisão, ao escolher uma israelita e uma árabe para cantarem em dueto. A escolha, que chegou um dia depois do início da ofensiva Israelita a Gaza, foi alvo de críticas por tentar passar uma imagem distorcida do país, quando as relações entre árabes e judeus estão particularmente tensas.

A israelita Achinoam Nini, conhecida internacionalmente como Noa, e a árabe Mira Awad, actriz e cantora, foram seleccionadas pela radiodifusão nacional.

A canção chama-se esperançosamente "There must be another way"...

12 março 2009

Arte de morte

A morte tende a ser um tema complicado de tratar em qualquer situação e em qualquer sector. Tudo nos parece macabro, negro e fúnebre.

Faz algum sentido pensar assim?
Poderemos morrer com o mesmo estilo com que vivemos?

Com o enterro a diminuir o seu peso na Europa e EUA – a taxa de cremação no Reino Unido está em 70%, seguido de perto pela Suiça, Dinamarca e Suécia – as urnas funerárias, muitas vezes guardadas em casa, são talvez o melhor objecto para os artistas contemporâneos poderem fazer as suas primeiras experiências de "arte de morte".

No final dos anos 90 na Califórnia, Maureen Lomasney lia um artigo num jornal sobre o aumento das cremações na região. “Comecei a pensar no que se estava a produzir para as pessoas porem as cinzas dos seus familiares, e cheguei à conclusão que não havia muita oferta".

Ela decidiu investigar e não descobriu praticamente nada. Então, no ano 2000, decide criar um concurso de urnas e arte funerária para artistas de escolas de arte e ateliers com prémios finais, júri especializado e possibilidade de venda das peças. A resposta muito positiva – tanto de artistas como de compradores – levou-a a abrir a empresa Funeria, um negócio de arte funerária que tem agora uma galeria em Sonoma County e uma bienal em São Francisco.

“Os pedidos estão a quadruplicar a cada ano nos últimos 3 anos... Eu diria que estamos no bom caminho”. E mais: “As pessoas pensam em todas as fases da sua vida e procuram oportunidades para enriquecê-las.”

Mas aqui na Europa também vamos avançando. Na Bienal de Design de Saint-Etienne, a peça sensação foi um trabalho "assustador" do artista francês Pierre Char­pin: uma pequena caixa para cinzas humanas em vidro branco se for para uma criança ou em vidro negro se for para um adulto.

“Uma urna não tem de parecer outra caixa qualquer”, diz Charpin,“Não tem de ser uma caixa bonita, elegante e bem desenhada.”

A peça de Charpin faz parte de um grupo de 10 obras comissionadas por Matteo Gonet, um fabricante de vidro, que descobriu e desenvolveu esta arte também por uma análise empírica da inexistência de oferta. A lista de criadores inclui artistas, artesões, professores de arte e vidreiros.

Depois de Saint-Etienne, estes protótipos já viajaram para mais exposições, em Eindhoven (Designhuis) e Lausanne (Musée de Design et d’Arts Appliqués Contemporains - Mudac). Próximo passo: produzir as peças para vendê-las.

04 março 2009

Transformers no Paraguai

BRIEF:
- queremos promover a estreia do filme "Transformers"
- o Paraguai é um dos 5 países mais piratas do mundo (índice de pirataria 90%)
- necessidade de fazer uma campanha que leve as pessoas ao cinema
- orçamento muito limitado

PROPOSTA DA AGÊNCIA:
- Vamos meter-nos na boca do lobo e focar-nos em quem compra pirata

IDEIA:
- Lançamos no mercado pirata um DVD com a capa do filme Transformers duas semanas antes da estreia mundial - os consumidores ficam surpresos com a rapidez com que chega ao mercado e compram
- Dentro da caixa não está o filme mas sim um desconto grande em bilhetes de cinema para o filme

RESULTADOS:
- 26.000 pessoas foram ao cinema com este desconto
- Awareness sobre a acção e sobre a importância da pirataria

Este foi um trabalho fantástico da agência Oniria para a empresa Cinepremium del Sol. Ganhou os prémios de criatividade todos que havia para ganhar no Paraguai com mérito total.

Se não podes vencê-los junta-te a eles.

01 março 2009

The Printed Blog

Parece que tudo se encaminha para o fim dos jornais. Desde que me lembro de ouvir qualquer comentário sobre este tema, a opinião nunca muda: os jornais têm os seus dias contados e todos os seus leitores se vão perder para a rádio, a televisão, os gratuitos e por fim, a internet. Esse monstro aglutinador em que ninguém paga nada a não ser aos operadores pelas mensalidades e os Gigas de Downloads...

De repente, uma start-up de Chicago (uns românticos com certeza) cria um negócio cuja única ideia reverte toda esta tendência: The Printed Blog, o jornal que "devolve a sensação táctil de ter a informação na mão" e que pode ser lido em qualquer sítio independentemente de existir rede wi-fi.

Este novo jornal terá sobretudo um enfâse local, agregando conteúdos gerados na internet e portante sem equipa redactorial. No fundo, é um jornal que funcionará como um feed RSS e que practicamente não necessita trabalhadores.
O conteúdo não será apenas de blogs mas também fotos, puzzles, eventos, comentários de leitores e assuntos de interesse local. The paper is currently still testing its model, but its first issues are scheduled to hit the streets of Chicago and San Francisco today. It will ultimately be distributed to neighbourhood pickup points in A.M. and P.M. editions.

O The Printed Blog já tem acordos com mais de 300 bloggers para publicar os seus posts em troca de uma percentagem dos ganhos de publicidade e teve na sua primeira edição 15 anuunciantes. A seguir, e para conseguir um alcance maior, a ideia é colocar impressoras na casa dos distribuidores para poderem imprimir e distribuir com maior rapidez e menores custos.

Apesar de todas as incógnitas deste negócio, não deixa de ser uma ideia brilhante baseada na simples necessidade das pessoas gostarem de:
:: ler opiniões - muitas vezes mais do que só informação imparcial
:: saber as notícias locais da sua terra
:: e ter um suporte papel

A visitar: www.theprintedblog.com

25 fevereiro 2009

Mecenas, Caius Mecenas

É curioso como surgem algumas palavras...
Em geral atribuimos muitas à lingua grega mas não é costume serem atribuidos a um nome grego!

Mal sabia este senhor que o seu nome se iria eternizar como o símbolo do patronato rico, generoso das artes. Que o papel de um Mecenas (que não obrigatoriamente grego) é tão importante para o mundo cultural!


Mecenas (Caius Maecenas) foi um cidadão romano da época imperial. Foi um grande político, estadista e patrono das letras. Administrou a fortuna da sua família que era rica (entre 74 a.C. e 64 a.C.) e foi um conselheiro hábil e de confiança de César Octaviano (Augustus). Este Imperador fez-se muitas vezes representar por Maecenas como seu tribuno, orador, patrono e amigo pessoal para várias missões políticas. Depois da reforma, devotou todos os seus esforços ao seu famoso círculo literário, que incluíu Horácio, Virgilio, e Propertius, patrocinando-os com bens materiais e protecção política.

Ser "um mecenas" foi expressão que foi ficando e que derivou depois para o substantivo "mecenato" que representa exactamente o que Caius Maecenas fez em vida...

19 fevereiro 2009

Havana Club, rum mecenas

Uma bebida alcoólica também pode ser um dinamizador de cultura.
Em Havana, capital de Cuba, existe um movimento cultural enorme, seja em museus, galerias, escolas, fábricas abandonadas ou cafés. A criatividade e a imaginação não se prendem a meios ou recursos: onde há espíritos artistas pode ser criada arte.

A bebida Havana Club pretende exactamente dar a conhecer ao mundo esta faceta cultural da sua cidade-natal.
É muitas vezes uma ligação que muitas marcas não sabem fazer, saber descobrir a Unique Selling Proposition baseado no próprio produto e daí criando uma vantagem comparativa que é diferenciadora e que não pode ser apropriada por mais nenhuma marca. Se este Rum é de Havana e isso é o que o diferencia porque não apostar na sua origem?
Nem sempre é preciso inventar a roda para vender um produto.

"Queremos dar a conhecer ao resto do mundo a realidade da arte cubana, uma imagem muito diferente à tradicional dos guias turísticos" refere François Renié, Director de Comunicação de Havana Club International .
E este é o segundo ponto da estratégia que faz a diferença: a marca poderia perfeitamente ter escolhido caras bonitas de Havana, as praias com água quente, até mesmo a imagem do Fidel Castro mas num raciocínio bem estruturado prefere entrar pelo mundo da cultura...

A cara do projecto é um site (www.havana-cultura.com), inteligentemente livre de muita marca - ninguém quer ver garrafinhas de Havana Club a passear no site - que serve de montra para mostrar todo o tipo de trabalho artístico de jovens locais com uma qualidade gráfica de excelência.

Depois disto, vêm obviamente as exposições das melhores obras em salas pelo mundo fora sempre com a alçada da marca. "É um dever e um prazer para Havana Club como empresa prommover a cultura do seu país de origem" indica Renié. "Ajuda a reforçar a sua origem cubana e autenticidade, representando valores muito positivos de criatividade, vitalidade, energia, comunicação, originalidade... E assim Havana Club converte-se numa marca mais atractiva para o público e mais interessante para líderes de opinião e meios de comunicação".

As marcas só têm a ganhar na aposta em cultura, sobretudo um ganho a longo-prazo na sua imagem perante os consumidores, e também um ganho em termos de orçamento porque estaremos sempre a falar em valores muito abaixo do que se paga pela comunicação convencional. O problema é que nos dias de hoje o longo-prazo é longo demais...

18 fevereiro 2009

"Skins" - série de televisão

Uma série de televisão já não é só um programa de 40 minutos que é transmitido semanalmente por um canal qualquer. As séries têm tomado uma importância ultimamente que está ao nível do cinema: a ficção de televisão é tão poderosa, variada e rica como toda a indústria de Hollywood... Ou até podemos dizer que é o próprio Hollywood que quer fazer parte disto para não perder o comboio...

E o canal britânico E4 foi o primeiro a lembrar-se de uma coisa muito simples: as pessoas quando vêm uma série estão em casa. E estar em casa hoje em dia para um target jovem significa estar em constante multi-tasking. Têm a televisão acesa, estão no computador, metidos no messenger ou no Hi5, ouvem música, enviam sms e ainda terão uma revista no sofá à espera de ser desfolhada.

Assim que, no lançamento da 3ª temporada de "Skins", uma série para adolescentes que relata a vida de um grupo de estudantes de secundária de Bristol e a sua relação com as drogas, o sexo, os adultos e entre eles mesmos, o canal E4 utilizou a plataforma do Messenger para se aproximar ainda mais do target. Se acrescentarmos o endereço skinsmessenger@e4.com aos nossos contactos do Messenger, enquanto a série passa na televisão, começamos a receber informação adicional sobre a mesma. Chegam-nos mensagens com dados sobre o que se está a passar, com conteúdos extra e links para entrevistas com os actores ou cenas novas que não vão passar no formato convencional.

Para além disso, e porque a ligação no Messenger está sempre activa, vamos recebendo algumas mensagens como o horário do próximo episódio, antevisões de próximos episódios, links para vermos episódios antigos e tudo aquilo que a produção se possa lembrar!

Se dermos um salto à página oficial (http://www.e4.com/skins/) vemos que não só de Messenger se serve esta série, está presente no MySpace, Bebo, Twitter e Facebook, os grandes "centros de comunicação" dos nossos dias.

A televisão reinventa-se para sobreviver com um dos provérbios mais antigos que eu conheço: "se não podes vencê-los, junta-te a eles".

17 fevereiro 2009

Matadero Madrid (Parte 2)

Análise ao modelo geral de ajudas à criação 2008 do Matadero Madrid:

Uma das apostas mais importantes do Matadero é o programa de apoio à criação artística e ao pensamento contemporâneo, potenciando a sua difusão e aproximação aos cidadãos, que centraliza todo o orçamento cultural do Ayuntamiento. No total são 355.000€ distribuídos em três programas:

A) Programa de espaços e agentes culturais independentes - Destinado a espaços permanentes bem como a agentes culturais (dotação máxima por projecto de 30.000€)

B) Programa de criadores - Destinado à produção de obras de criadores individuais e colectivos, projectos com carácter inovador e actividades com fundamentos e conteúdos de livre escolha (máx. 15.000€)

C) Programa Matadero Madrid - Destinado a projectos e/ou actividades que deverão desenvolver-se nos espaços e instituições activas no Matadero Madrid (máx. 18.000€)

O Matadero gere também as Ajudas à Mobilidade Internacional de Criadores implicados na criação artística madrilenha para a ampliação de estudos, a investigação, e a realização, produção e desenvolvimento de projectos de criação no exterior. O valor total é de 150.000€ com um limite máximo por beneficiário de 12.000€.

O montante destas subvenções, que pode parecer elevado a uma maioria de cidadãos, é no final bastante ridículo se o compararmos com muitas outras que recebem diversas empresas, indústrias ou clubes desportivos. Para além disso é um montante que, ao ser dividido por tantos criadores, acaba por ser utilizado para cobrir os custos de produção deixando de lado uma parte tão importante como a comunicação. De que nos vale uma obra de arte magnífica se ninguém sabe onde está exposta?


Análise de um dos projectos subvencionados:

LA ENANA MARRON é uma sala independente de exibição de programas que incluem obras singulares de artistas plásticos, cineastas e video-artistas, aberta desde 1999. Este auditório, com capacidade para 70 pessoas, consagrado ao cinema de autor, inédito e em vários formatos (super 8, 16mm e 32mm), encontra-se no bairro de Malasaña. A programação centra-se em curtas e largas-metragens experimentais, independentes e minoritárias, algumas vistas em pequenos festivais de muitos lugares do mundo normalmente inacessíveis em Espanha.
Nesse sentido, La Enana Marrón é a única sala de Madrid que oferece uma programação estável de obras com estas características.
Programa-se filmes de um marcado valor pessoal, às vezes artesanais, fora dos circuitos comerciais e com poucas possibilidades de se aproximarem de um público que existe. Alem do mais, tentam romper com o modelo clássico de sala de projecção, através de um intercâmbio directo do espectador com alguém vinculado à obra apresentada (programador, realizador, crítico ou actor): “As conversas-colóquios depois das projecções e performances que envolvem o cinema, são as nossas propostas para tentar romper com o molde clássico de sala de projecções, onde uma pessoa vem, vê e vá.”

No mês de Janeiro esteve em cartaz o Festival de Cinema Independente de Barcelona “L'alternativa”, constituído como uma plataforma de exibição de um cinema que normalmente tem difícil acesso às salas pelo seu carácter criativo. No total foram projectadas 24 filmes de diferentes criadores que supõem uma mostra do que está na moda actualmente no mundo do audiovisual contemporâneo, todos inéditos em Espanha.
No total têm 6 patrocinadores:
:: Comunidade de Madrid – Matadero
:: Ministério de Educação, Cultura e Desporto – Secretaria de Estado de Cultura
:: Festival de Cinema Independiente de Barcelona “L'Alternativa” (projecto apoiado pelo Estado)
:: Independent Film Network (também apoiado pelo Estado)
:: ConceptoWeb (para a gestão do site)
:: Kinova – Pós-produção e Títulos (parte técnica e logística)

A existência deste projecto é totalmente dependente da política pública de apoio às artes. Ainda que todas as actividades sejam a pagar, e exista a possibilidade de ser sócio do cinema, as receitas não cobririam os gastos que supôem o seu funcionamento.
Deparamo-nos com a existência de subvenções aos 2 niveis comentados anteriormente, nacional através do Ministério e local, através da Comunidade.

No meu ponto de vista, a subvenção aqui é imprescíndivel porque se trata de permitir o acesso a bens culturais que não estariam disponíveis de outra forma. É a única maneira de ampliar o espectro cultural nesta área, com a vantagem de poder aproveitar toda uma rede internacional que já existe para o intercâmbio deste tipo de conteúdos.

Tendo em conta que o funcionamento do espaço seguirá com a sua coerente definição de linhas de programação e com o seu público definido, deveriam-se procurar caminhos de sustentabilidade:
:: mais comunicação em media que esteja em linha com o estilo de consumidor
:: utilização da sala todos os días (e não só 3 noites por semana) – eventualmente com outro estilo de programação
:: procurar cooperação com outros festivais internacionais
:: criação de associações para a venda directa de bens complementares (ex. livros, DVD's)
:: apoio a obras de realizadores de Madrid – criar o seu próprio Centro de Artes

Matadero Madrid (Parte 1)

"Este projecto é um dos mais ambiciosos, importantes e transformadores, dos de maior envergadura realizados em Madrid" que nasce com a aspiração de se converter num "recinto insólito, amável, de entrada livre e gratuita", assim apresentou em 2006 o Alcaide de Madrid, Alberto Ruiz-Gallardón, esta iniciativa que abarca uma área total de 148.300m2, reaproveitando as antigas instalações do Matadouro da Arganzuela. O Matadero Madrid nascia com a ambição de se converter nos seguintes cinco anos num centro cultural de vanguarda, no qual o Ayuntamiento e as instituições públicas e privadas investirão 110 milhões de euros entre 2006 e 2011.


O intervencionismo do sector público como garante do acesso à Cultura:

Se dedicamos um momento às contas do projecto, verificamos o grau de intervencionismo necessário para seguir em frente com uma obra destas: dos mais de 110 milhões de euros que se destinarão até ao ano 2011, 75% sairá do Ayuntamiento e os restantes 25% serão aportados pelas instituições públicas e privadas que cooperam neste projecto, que compatibilizará o seu uso cultural com o processo de re-habilitação (INAEM, Comunidade de Madrid, IFEMA, Fundación Germán Sánchez Ruipérez e a empresa concessionária do Estacionamento).

O sector público cumpre o seu papel de criar as infra-estructuras básicas, mantendo-as sob o seu controlo e fomentando directamente a criação e produção de arte.
Contudo, na construção do Matadero cabem outros organismos que não exclusivamente públicos.

O intervencionismo (tal como o liberalismo) são pontos extremos do que passa na realidade: a constituição espanhola tem uma margem de flexibilidade para que se adoptem diversas políticas, e, de acordo com o projecto, as percentagens de financiação do sector público e privado mudam significativamente.
Ainda que acredite que o sector público terá sempre de estar presente no apoio à cultura, os projectos têm de ser encarados cada vez mais através de um conceito de sustentabilidade, ou seja, ainda que o Estado esteja presente, têm que procurar financiação própria do consumidor ou do sector privado para seguir em funcionamento.

Em Espanha, depois do que era absolutamente necessário fazer a nível cultural no período pós-franquista e de toda a crição de infra-estructuras nas décadas de 90 e 2000, o Estado ir-se-á retirando de numerosos âmbitos relacionados com a Cultura, deixando livre o caminho para o avanço do sector privado, que se espera agora mais activo culturalmente.


Relação entre os poderes nacionais e locais:

No quadro actual de divisão de competências, hoje em dia são as Comunidades Autónomas e os Ayuntamientos quem mais decide a política cultural espanhola. O Matadero é o exemplo perfeito da importância desta divisão.
Se a vemos pelo ponto de vista orçamental e capacidade de obra, esta divisão favorece as grandes cidades pela maior capacidade financeira que têm. Uma obra “faraónica” como o Matadero só poderia ser executada numa cidade como Madrid.
Por outro lado, ao ter flexibilidade local, cada Comunidade ou Ayuntamiento pode decidir a sua política cultural mais de acordo com o seu contexto social e geográfico, permitindo uma melhor adaptação ao seu entorno. O Matadero Madrid, de novo como exemplo, serve propósitos eminentemente locais: será o vértice de um triângulo formado pelos outros dois centros culturais metropolitanos postos em marcha (Conde Duque, dedicado à memória, e o Palácio de Comunicações, dedicado a Madrid).


O projecto: a sua importância urbanística e cultural

Outra questão importante neste projecto é a sua relevância urbanística: é "muito mais que um projecto arquitectónico" ao envolver a recuperação das ribeiras do rio Manzanares e todo o espaço urbano do sul de Madrid.
Nos dias que correm, as grandes infra-estructuras culturais servem como bandeira de uma recuperação arquitectónica, social e turística sobretudo desde o “efeito Guggenheim”. No caso do Matadero, pode até acrescentar-se que as instalações já eram de referência para a cidade, com a sua própria espectacularidade, sem existir uma necessidade de fazer algo com a assinatura de algum arquitecto-estrela.

Em termos de actividades o carácter do Matadero é totalmente multidisciplinar, nele convivem as artes plásticas, cénicas e visuais, a literatura, a música, o design e a arquitectura. Para além disso, promove o diálogo entre artistas e de estes com o público e com a cidade.
A ideia é funcionar como um grande laboratório de criação contemporânea, convertendo-se na referência para a comunidade artística e para o grande público, para a cidade e os seus turistas, para a imagem de uma urbe moderna e na vanguarda das tendências.


A sobrevivência do Matadero a longo prazo:

O modelo do Matadero não é particularmente diferenciador versus os Centros de Arte Contemporânea existentes, o que sim é diferenciador é a grandeza das suas instalações, a multitude de artes agrupadas debaixo do mesmo tecto, a capacidade orçamental e o apoio total do Ayuntamiento de Madrid. O facto de ser a pérola cultural do actual Alcaide e de servir como centralizador da sua política cultural, dá-lhe uma vantagem importante para a sua afirmação na cena cultural.

A prova de fogo para o Matadero virá com cada ano que passa: o importante é que mantenha um programa continuado e coerente de actividades, que mantenha a sua implicação com a cidade.
Noutros projectos emblemáticos (de outras cidades) chegou-se ao descuido: depois do mérito de se ter conseguido realizar a infra-estructura (faraónica ou não...), a falta de dinamização de acordo com a dimensão e ambição do projecto leva a que se transforme no típico lugar que todos dizem que é espectacular, mas ninguém sabe muito bem para que serve ou o que é que se organiza aí.

No mundo da cultura-espectáculo a forma costuma ser mais importante do que o conteúdo no curto-prazo, mas a diferença entre os grandes projectos e os medíocres no longo-prazo será sempre vista através do seu conteúdo.

22 janeiro 2009

As criações do Dragone

Tudo começou em 1985. Um encontro fortuito com o jovem Guy Laliberté levou Franco Dragone a dirigir um espectáculo de um pequeno grupo de artistas de circo chamados "Cirque du Soleil".
Primeiro impressionaram a crítica do Quebec (Canadá, de onde são oriundos) e depois começaram a conquistar o resto do mundo com o seu conceito de circo: não há palhaços, não há animais, nem sequer os entertainers que pedem palminhas. Para quem já viu algum espectáculo - eu felizmente tive essa oportunidade - este circo é uma fusão entre teatro clássico, acrobacias, musicais e pista de dança.
Com esta magia, a marca "Cirque du Soleil" chegou a situar-se no top 50 de marcas mais valiosas da análise da Interbrand e a empresa factura actualmente cerca de 480 milhões de euros por ano.
Há 2 anos atrás o director de marketing & vendas Europa, Shawn Kent, fez uma apresentação na conferência da APPM que nos deixou bastante claro que o CdS é uma empresa acima de tudo, claro que tem uma parte artística, a sua magia, mas o que conta é a estratégia que os fez tornarem-se tão grandes.

Obviamente que a grandeza é atingida com a qualidade do produto mas quantos produtos bons não se desenvolvem porque não têm qualquer estratégia de crescimento?


Franco Dragone foi director criativo do Cirque du Soleil de 1985 a 2000 e depois de sair fundou a produtora Les Creations du Dragone. Actualmente dedica-se a produzir espectáculos por encomenda como por exemplo, o de Celine Dion em Las Vegas ou uma série de shows para a Cutty Sark em Espanha.
Transcrevo uma entrevista sua que saiu na revista BrandLife (jornalista Marcus Hurst).

Como começou a colaborar com o Cirque du Soleil?
Estava em Montreal a visitar a minha namorada e entrei na casa de banho de um restaurante. Aí estava um autocolante com o número de telefone da Escola Nacional de Circo. Eu não tinha muitas referências de circo, o meu passado estava no teatro, mas tinha algum interesse por saber o que ensinavam. Telefonei e depois fui conhecer o director da Escola. Ele pediu-me para dar aulas e eu acabei por aceitar porque naquele momento era a desculpa perfeita para poder estar mais tempo com a minha namorada.

No ano seguinte dirigi um espectáculo na Escola. No público estava o Guy Laliberté, um jovem com 23 anos. Tinha-lhe gostado muito o espectáculo e acabámos por nos tornar amigos. Pouco depois pediu-me para ser director do Cirque du Soleil. Foi como uma espécie de amor à primeira vista. A primeira obra que fizémos era tão diferente que foi um choque para a comunidade de artistas do Quebec. A nossa associação durou mais de 15 anos.

Porque é que abandonou a companhia?
Com o CdS criámos escola, rompemos moldes. Quando saí no ano 2000, estava a precisar de uma pausa. Estava a reproduzir as mesmas fórmulas. Percebi que a maquinaria do CdS estava mais preocupada com os aspectos económicos, que são sem dúvida muito importantes, mas que prejudicavam a independência do processo criativo.

Começava a perder a sua alma?
Sim. Era isso que eu temia. Para mim nunca é uma questão de quanto dinheiro temos de ganhar. O mais importante é o que queres contar, o que queres criar. Se há alma por detrás, venderás muitos bilhetes. É óbvio que necessitas de uma máquina de marketing eficaz mas é preciso ser sincero. Tens de gerar emoção e respeitar a inteligência do espectador. Com o CdS estivémos na avant garde. Quando perdi essa sensação, o meu corpo pediu para sair.

A gestão de orçamentos enormes acaba por originar propostas mais conservadoras?
Não há uma regra geral. Há empresas, que até estão em bolsa, que assumem grandes riscos. Uma pessoa como o Steven Spielberg, por exemplo, não perdeu a sua alma. Ele aceita riscos todos os dias. O dinheiro não é a única coisa que origina uma atitude conservadora mas sim o medo de perder o que tens, o dinheiro, os orçamentos... isso sim é que faz que assumas menos riscos.

Como é que se inspira para os seus espectáculos? Literatura, cinema, o seu entorno...?
Há uma coisa que me motiva: tenho medo do vazio. Há um poema muito bonito de um poeta italiano que diz que Roma é a cidade barroca mais bonita do mundo porque está cheia de vida. Associa a vida a um lugar que está completamente cheio. É isso mesmo que alimenta e motiva a minha imaginação. Esse medo do vazio. Isso é o que me faz combinar foguetes e gigantes ao mesmo tempo!

A internet e as tecnologias interactivas influenciaram a maneira de conceber os seus espectáculos?
As novas tecnologias dão-me medo e ao mesmo tempo fascinam-me. Apesar de todos os avanços tecnológicos, o espectáculo mais complexo que fiz foi "O" e preparei-o como se estivesse a fazer um show qualquer com dois fósforos e um cartão. O que quero dizer é que não temo as novas tecnologias. A questão é como se utilizam, como se combinam. Estive há pouco tempo no estúdio da Dreamworks e vi autênticas maravilhas que gostaria de ter nas minhas obras...
Mas cuidado! Atrás de qualquer tecnologia tem sempre de existir a palavra e a poesia. Sem isso, é apenas uma soma de efeitos e uma acumulação de dinheiro. Nada mais.

Tem notado algum tipo de revolta contra a tecnologia? Há público que queira voltar às raízes deste tipo de espectáculos?
Acho que há coisas que estamos de facto a reavaliar. Estava a falar com o Guy (Laliberté) e comentei-lhe que no meu próximo espectáculo quero amplificar aquele som de quando a mão toca o trapézio. Quero que seja uma obra centrada na essência do espectáculo. Há que manter um equilíbrio. Se abusas da tecnologia, desaparece a poesia.